Para quem está acostumado com o cinema visto pela ótica hollywoodiana cria alguns preconceitos bobos referentes a 7ª arte. São filmes como estes que nós temos um exemplo claro do porque do cinema ter sido nomeado uma arte. Um dos maiores cineastas alemães, Werner Herzog, nos presenteia com uma obra feita em 1974 e que se mostra ainda muito atual. É poesia visual e instigativa.
O filme é baseado na estória real de Kaspar Hauser, sujeito criado acorrentado como bicho até os seus 17 anos, sendo alimentado somente de pão e água ele é solto no meio da pequena cidade de Nuremberg em 1828. Dalí em diante somos levados a muitas reflexões e relações com a sociedade em que somos criados, pois Kaspar Hauser é ensinado do zero todos os valores que nós julgamos “certos” ou “normais” os quais o ser humano deveria ter.
O diretor Werner Herzog apresenta a todos um verdadeiro achado: o ator principal Bruno Schleinstein. Encontrado em um documentário intitulado “Bruno der Schwarze - Es blies ein Jäger wohl in sein Horn“ (1970) e devido ao seu problema mental real pode, apesar de dar muito trabalho nos sets, entregar um realismo ao papel que é fundamental para as pretensões narrativas.
Quando o personagem é confrontado pelos dogmas e ideais pragmáticas da sociedade que é criado ele contesta de forma surpreendente e supostamente ingênua. Sabemos que por traz de um personagem existe um criador, mesmo sendo baseado em fatos verídicos, fica inevitável não existir uma boa dose particular das intenções dele em transmitir suas idéias por meio de suas crias. O nível de esperteza e perspicácia que Kasper Hauser desenvolve vem do grupo de pensamentos mais básicos da humanidade e que muitas vezes se perdem no meio de tudo aquilo que se julga lógico.
A jornada de um ser humano cru em direção ao corrompimento sócio-psíquico causado pela sociedade que lhe educa é o elemento narrativo que mais nos chama a atenção ao longo de todo o filme. “O Enigma de Kaspar Hauser” nos causa um estalo de consciência para entendermos que questionar é peça importante em nossa vida para que assim possamos correlacionar um filme feito em 1974 - sobre uma estória de 1828 - com o ano em que estamos: 2010. Alguém ainda tem dúvida de que certas obras cinematográficas podem ser vistas eternamente que ainda terão um valor de correlação fantástico?
Ficha Técnica
Título Original: (Jeder für sich und Gott gegen alle – Tradução: Cada um por si e Deus contra todos).
Lançamento: 1 de Novembro, 1974.
Produção: Werner Herzog.
Direção: Werner Herzog.
Roteiro: Werner Herzog.
Atores: Bruno S., Walter Ladengast.
País: Alemanha Ocidental.
Língua: Alemão.
Duração: 110 min.
Gênero: Drama.